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A importância da alternância no uso dos Sistemas de Infiltração de Esgoto: Círculos de Bananeira como Alternativa Sustentável ao Sumidouro Convencional

  • Foto do escritor: ÁGUAV Construindo Sustentabilidade
    ÁGUAV Construindo Sustentabilidade
  • 12 de ago.
  • 6 min de leitura

O tratamento de esgoto doméstico aliado a estratégias de sustentabilidade é uma necessidade urgente em diversas regiões. Aliado ao novo marco regulatório do saneamento que estabelece prazos para a universalização do saneamento, se faz mais ainda urgente os métodos alternativos integrativos complementares de tratamento em áreas isoladas ou com baixa viabilidade técnica frente aos sistemas convencionais de esgotamento sanitário.

Um exemplo prático e eficiente são os círculos de bananeira, também chamados de núcleos de fertilidade, que combinam o tratamento do efluente com a produção de biomassa e alimentos como alternativa eficiente para a etapa de disposição final.

Este artigo explora as vantagens desse sistema em relação aos sumidouros convencionais, apresenta estratégias de alternância de uso para prolongar a eficiência e evitar problemas de colmatação, e aborda o aproveitamento dos nutrientes pelas plantas.


Desenho Esquemático 3D de Círculo de Bananeiras, ou Núcleos de Fertilidade (Acervo ÁguaV).
Desenho Esquemático 3D de Círculo de Bananeiras, ou Núcleos de Fertilidade (Acervo ÁguaV).

Faça o Download aqui do projeto do Círculo de Bananeiras em 3D (formato SketchUp .skp) ou AutoCad (.dwg) para sua necessidade.



Preâmbulo sobre as etapas de um sistema de tratamento de esgoto eficiente


De acordo com literatura específica, existem basicamente cinco grandes etapas a serem cumpridas para um tratamento de esgoto de efluentes domésticos eficiente, sendo:


Tabela simplificada das etapas de Tratamento de Esgoto. (Acervo ÁguaV).
Tabela simplificada das etapas de Tratamento de Esgoto. (Acervo ÁguaV).

Entretanto cabe a cada projetista decidir qual sistema empregar e executar. O que muitas vezes acaba acontecendo, é que os projetistas não possuem a criteriosidade e conhecimento profundo das distintas técnicas e metodologias de campo para poder distinguir com assertividade quais melhores soluções para cada contexto local. Tal assunto será explorado e detalhado em um próximo artigo falando sobre A ÁRVORE DE DECISÃO DO SANEAMENTO.

Neste artigo iremos focar na última etapa de tratamento, a da disposição final.


Vantagens do Círculo de Bananeiras em Relação aos Sumidouros Convencionais


Os círculos de bananeira destacam-se como uma solução mais ecológica, multifuncional e de menor impacto ambiental em comparação aos sumidouros convencionais. Abaixo estão suas principais vantagens:

1. Aproveitamento de Nutrientes:

o Os sumidouros convencionais têm como principal função a infiltração de efluentes no solo, mas acabam inutilizando nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio que poderiam ser aproveitados pelas plantas.

o Em um círculo de bananeiras, os nutrientes presentes no esgoto doméstico tratado servem como fertilizantes naturais para as plantas, promovendo maior biomassa e produtividade.

o Além de remover o excesso de nutrientes do esgoto e evitar a contaminação do solo e águas, as plantas se beneficiam disso, transformando o problema em solução.


2. Melhoria da Qualidade do Efluente:

o Ao passar pelo substrato bioativo e pelas raízes das plantas, o efluente sofre um pré-tratamento adicional que reduz a carga orgânica, óleos e graxas, e purifica melhor a água no processo de infiltração.


3. Multifuncionalidade:

o Além de infiltrar o esgoto doméstico, o sistema também é responsável pela produção de bananeiras, que são ricas em biomassa, e de outras plantas que podem ser cultivadas em consórcio com elas, como mamoeiros, taiobas e até ervas aromáticas (dependendo do controle na gestão da área tratada).

o Atua como um sistema paisagístico, integrando o tratamento de esgoto à estética natural do ambiente.


4. Minimização de Impactos:

o Reduz a possibilidade de saturação e mau cheiro, comuns em sumidouros convencionais quando o solo é mal dimensionado ou sujeito a altas cargas.

o Além disso, elimina a atração de vetores (moscas, roedores) que podem ser um problema em sistemas mal projetados, pois não mantém o esgoto a céu aberto.



Veja abaixo o vídeo instrutivo do passo-a-passo para a construção de um círculo de bananeiras ou Núcleos de Fertilidade feito em 2013 em Extrema-MG.




Por Que Usar Dois ou Mais Dispositivos de Infiltração em Paralelo?


A alternância de uso nos sistemas de infiltração é fundamental para garantir o funcionamento contínuo e evitar falhas.


Montagem comparativa entre Círculo de Bananeiras em série x paralelo. (Acervo ÁguaV).
Montagem comparativa entre Círculo de Bananeiras em série x paralelo. (Acervo ÁguaV).

Animação simplificada mostrando dispositivos em série, não sendo recomendado. (Acervo ÁguaV).

A principal recomendação é evitar dispor os dispositivos de infiltração em série. Aqui está o motivo:


1. Evitar Colmatação do Sistema:

o Quando os dispositivos estão em série, a sobrecarga de um deles pode levar ao entupimento precoce, devido ao excesso de material orgânico e ao acúmulo de gorduras e sólidos.

o Em paralelo, é possível descansar um dos sistemas enquanto o outro está sendo utilizado, permitindo que o solo e o substrato bioativo se regenerem.


2. Prevenção de Saturação do Solo:

o A alternância de uso dá tempo para que o solo absorva e trate o efluente, evitando a saturação e mantendo a capacidade de infiltração.


3. Controle de Mau Cheiro e Vetores:

o A saturação do solo gera anaerobiose em excesso, levando à produção de odores desagradáveis e atração de vetores.

o Alternar o uso permite que a área “descansada” volte ao ambiente aeróbico, quebrando esse ciclo.


4. Maior Durabilidade do Sistema:

o Com dois ou mais dispositivos, o desgaste do substrato bioativo e das plantas é reduzido ao dividir a carga entre diferentes áreas.


Estratégia para Alternância em Sistemas de Círculo de Bananeiras


• Instale pelo menos dois círculos de bananeira em paralelo, conectando-os ao sistema de saída do tratamento por meio de um registro ou caixa de divisão de fluxo;

• Use um dispositivo de infiltração por vez, alternando a operação a cada 6 meses ou conforme a capacidade efetiva do sistema.

• Durante o período de descanso, observe a recuperação da estrutura do solo, o crescimento da vegetação e a ausência de odores.

• Em épocas de festas, feriados e visitas, tem-se a possiblidade de manter os dois dispositivos com funcionamento simultâneo, aumentando os volumes infiltrados diariamente, compensando o maior consumo de água na habitação.


Desenho esquemático Caixa divisora de Fluxo. (Acervo ÁguaV).
Desenho esquemático Caixa divisora de Fluxo. (Acervo ÁguaV).


O Aproveitamento dos Nutrientes e Água pelas Plantas


As plantas no círculo de bananeiras desempenham papel central no sucesso do sistema, pois utilizam eficientemente os nutrientes presentes no efluente e melhoram a infiltração. Algumas das vantagens do uso do sistema incluem:

1. Melhoria no Ciclo de Nutrientes:

o Nitrogênio e fósforo, presentes no efluente caseiro (especialmente provenientes de fezes e detergentes), são absorvidos intensamente por plantas como as bananeiras e dificultam a lixiviação em lençóis freáticos.

o As plantas promovem um ciclo natural ecológico, onde os nutrientes alimentam raízes e folhas, contribuindo para a produção de fruta e biomassa.


2. Eficiência Hídrica:

o O efluente filtrado se torna uma fonte de irrigação constante, especialmente em regiões de baixa disponibilidade hídrica.

o As bananeiras têm raízes superficiais que conseguem captar a água de forma eficiente, minimizando perdas para camadas profundas do solo.


3. Fitoextração e Desintoxicação do Solo:

o As plantas no sistema agem como filtros biológicos, quebrando compostos orgânicos e absorvendo metais pesados presentes em baixa concentração no efluente.



Considerações Finais


Os círculos de bananeira representam uma alternativa que vai além do simples tratamento do esgoto. Eles contribuem para a resiliência ambiental, integrando os processos naturais e de engenharia para criar um sistema multifuncional.


Com a alternância de uso e a instalação de dispositivos de infiltração em paralelo, tais sistemas permanecem eficientes por mais tempo, evitando colmatação, saturação e os problemas associados aos sumidouros mal projetados.


Afinal, ao unir o reaproveitamento dos nutrientes, a eficiência hídrica e a durabilidade ao longo do tempo, os círculos de bananeira tornam-se não apenas uma solução de tratamento de esgoto, mas também um ativo ecológico integrado ao espaço.



NOTAS GERAIS PARA DISPOSIÇÃO FINAL NO SOLO


1.       Seleção adequada do local: escolher áreas com solo permeável e boa capacidade de infiltração. Evitar locais próximos a lençóis freáticos elevados ou sujeitos a inundações;

2.       Distâncias de segurança: manter uma distância mínima de 15 metros de poços de água potável, 3,00 metros de edificações para prevenir contaminação e danos estruturais e 1,50m de distância vertical entre o fundo do sumidouro e o nível máximo do aquífero;

3.       A disposição de efluentes no solo, mesmo tratados, não pode causar poluição ou contaminação das águas subterrâneas e/ou solo, devendo considerar os parâmetros mínimos de lançamento constantes na nbr 17076/2024 anexo k item k.2;

4.       Materiais: utilizar materiais duráveis;

5.       Dimensionamento do sumidouro: dimensionar com base no volume diário de efluentes e na capacidade de infiltração diária do solo (anexo n da nbr 17076/2024) por metro quadrado (l/m².dia). Considerar fatores de segurança para variações sazonais e picos de uso. Para calcular a área de infiltração total necessária, considerar a área superficial do fundo e das paredes laterais até o nível máximo d’água admitido no dispositivo;

6.       O teste de percolação é essencial para assegurar que a área escolhida atende a taxas de infiltração adequadas para a operação eficaz do dispositivo corretamente dimensionado;

7.       Idealmente prever a construção de mais de um elemento de infiltração em paralelo para garantir total infiltração dos volumes gerados de efluentes diários;

8.       Distâncias entre elementos: afastamento mínimo de 3,00m ou 3x o diâmetro dos dispositivos de tratamento ou muros e construções;

9.       Ventilação: instalar tubulação de ventilação para prevenir acúmulo de gases nocivos e odores nas instalações e evitar acúmulo de pressão interna, garantindo segurança operacional;

Acesso e manutenção: garanta acesso sobre a tubulação de entrada para futuras inspeções e manutenções, a fim de monitorar regularmente o nível de acúmulo e a eficiência de infiltração.



Acompanhe por aqui e nas nossas redes sociais onde estaremos atualizando em tempo real a evolução dos resultados deste trabalho e divulgando para você que se interessa pelas temáticas ambientais e inovações no Brasil.


 

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Leonardo Mello Affonso Lemos Tannous

Diretor Geral

ÁguaV Engenharia e Projetos LTDA.

Engenheiro Ambiental

CREA/SP 5063654518


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